Série de Sermões em Marcos
Passagem: Marcos 15:33-37
Título: O Dia em que Deus "Morreu" na Cruz
Pregado na manhã de Domingo, do dia 19 de agosto de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,
por Gustavo Barros |
Versão em vídeo
Marcos
15:33-37
33 E houve trevas sobre toda a terra, do meio dia às três horas da
tarde. 34 Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta
voz: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni?" que significa: "Meu
Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?" 35 Quando alguns dos
que estavam presentes ouviram isso, disseram: "Ouçam! Ele está
chamando Elias". 36 Um deles correu, embebeu uma esponja em
vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-a a Jesus para beber. E
disse: "Deixem-no. Vejamos se Elias vem tirá-lo daí". 37
Mas Jesus, com um alto brado, expirou.
Introdução:
De
todos os símbolos que usaram para o cristianismo [pão, peixe,
pomba...] o que mais marcou foi a cruz. O símbolo de vergonha e
humilhação se tornou para os cristãos a grande representação da
religião. Por quê? O que faz a cruz um símbolo tão maravilhoso? A
resposta é simples e perplexa ao mesmo tempo. A cruz é maravilhosa,
pois foi nela que o Deus encarnado – Jesus Cristo - morreu
vicariamente pelo Seu povo.
Para
a maioria das pessoas tal ideia é loucura e escândalo. O grafite de
Alexamenos que tinha um homem crucificado com a cabeça de um asno
tinha a seguinte inscrição debaixo do grafite: ‘Alexamanos,
adora seu Deus!’. A
implicação de tal desenho e afirmação é que um deus que se
agradou em se encarnar e morrer numa cruz romana só poderia ser um
asno/louco, consequentemente todos os que adoram esse deus são
burros!
Na
mitologia pagã, os deuses estavam sempre irados, por isso era
necessário sacrifícios constantes para apaziguar a ira
descontrolada deles. Era
inconcebível a ideia de que um deus seria tão rico em amor e
misericórdia que ele próprio providenciaria o sacrifício perfeito
para apaziguar uma ira santa e perfeita.
A
morte de Jesus – o Deus encarnado – é o que há de mais
simples e mais
profundo para a mente
regenerada compreender. É simples, pois nela vemos o amor de Deus
manifestado como em nenhum outro lugar – Jesus morreu pelos ímpios
(Rm 5:8). E ao mesmo tempo é tão perplexo e insondável é a ideia
de que Jesus – totalmente humano e totalmente divino – morreu por
nós. Como poderia o Deus que é o Alfa e o Ômega ter morrido?
A
pergunta que Charles Wesley fez em seu hino, ‘Como
Pode Ser?’ [How
can it be?], ‘Como
pode ser, Tu, meu Deus, morrer por mim?’,
tem provocado muitas pessoas.
O
teólogo R.C. Sproul rejeita com toda a força a ideia de que Deus
morreu na cruz, em um artigo ele diz, ‘Nós
deveríamos nos encolher de horror com a ideia de que Deus de fato
morre na cruz. A expiação foi feita pela natureza humana de
Cristo.’
(http://amecristo.com/2012/03/24/deus-morreu-na-cruz-r-c-sproul/).
D.A. Carson, por outro
lado, em um dos seus sermões fala de Deus morrendo na morte de Jesus
(http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2010/07/29/audio-and-video-for-d-a-carsons-the-god-who-is-there/).
O
problema é que não é tão fácil assim de explicar a morte de
Jesus como Sproul tenta. Jesus ao condenar o pecado em Sua carne (Rm
8:3) condenou-o por toda a eternidade e isso implica em algo muito
além da humanidade. Para que a condenação fosse eterna era
necessário que fosse aplicada em um ser eterno!
Sabemos
que a morte não é o cessar do existir. A morte não implica em
não-existência. Por isso sabemos que por um lado Deus nunca deixou
de existir. Mas por outro lado, Jesus de Nazaré – que era
totalmente divino - morreu (Ap 1:17-18).
Creio
que são nessas horas que precisamos simplesmente reconhecer:
1 – nossas limitações; 2 – a profundidade da sabedoria de Deus;
3 – o incompreensível amor de Deus (Fp
3:19 e
conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento);
4 – Que o Evangelho é um mistério que agora conhecemos em parte
(Ef 5:32; I Co 13:12).
A
ideia de um Deus imortal se encarnar e se fazer mortal, para que por
meio da Sua morte pessoas mortais, como nós, pudéssemos ter a
imortalidade é realmente profunda de mais para nós! É profunda,
pois o amor e a sabedoria deste Deus são profundos!
“Se Plinio (historiador romano)
viu que era impossível para Deus conceder imortalidade para os
mortais (Naturalis historia 2.27), para ele era igualmente impossível
que o deus imortal se tornasse mortal e morresse. Imortalidade
pertencia aos deuses e mortalidade aos homens. Mas que tipo de deus
era proclamado entre os cristãos? Um deus que na verdade morreu?
Pior, um deus que morreu numa cruz! Não é de se estranhar que o
grafite do segundo século, encontrado em uma parede, tivesse um
homem crucificado com a cabeça de um burro!... De que proveito é um
deus que permite ser morto, principalmente a morte na cruz? Que tipo
de deus faria isso? Que tipo de deus é esse?... Na pessoa do Filho,
Deus se fez carne e sangue, e ajuntou todos os nossos gritos de
abandono. E mais! Ele não só compartilhou das nossas experiências
comuns de abandono nesse mundo que está sob a sombra da morte. Lá,
na cruz, na pessoa do Filho, o próprio Deus suportou a ira de Deus –
no nosso lugar! Deus fez o impossível (Mc 10:26-27). Deus pagou o
resgate para nos libertar do julgamento da morte (10:45), e ao fazer
isso Ele concedeu imortalidade à nós, mortais. Numa cruz
repulsiva... Deus se aproximou.”
(Peter Bolt, The
Cross from a Distance,
IVP, pgs.144-145)
Independente
de conseguirmos compreender todas as implicações teológicas da
morte de Jesus a verdade é que foi naquela cruz que Deus se
aproximou de nós e se reconciliou com o homem pecador!
Contextualização:
Nós
chegamos ao ápice da história da redenção, a hora que Deus morreu
na cruz pelo Seu povo. Se a crucificação de Jesus é a coroa do
estudo de toda teologia, então podemos dizer que os versículos
33-39 do capítulo 15 de Marcos são os diamantes (as joias) dessa
coroa. E com certeza o versículo 37 é o Monte Everest de toda a
Bíblia, ele é o Diamante Rosa da coroa!
Marcos
10:45 diz qual foi o motivo do nascimento e da vinda de Jesus! As
várias profecias na Bíblia e em Marcos sobre a morte de Jesus se
cumprem aqui.
Estamos
na cena final da morte de Jesus. E durante esse acontecimento Marcos
narra cinco eventos extraordinários e dignos de toda a nossa
atenção: 1) a Escuridão; 2) o Grito de Jesus; 3) o
Último Brado de Jesus; 4) o Rasgar da Cortina; 5) a Conversão do
Centurião.
Divisão do Estudo:
I – AS TREVAS (v.33)
II – O BRADO DE ESPERANÇA (v.34)
III – A PERVERSIDADE NO CALVÁRIO (v.35-36)
IV – O BRADO DE TRIUNFO (v.37)
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