quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Marcos 15:33-37 - O Dia em que Deus "Morreu" na Cruz

Série de Sermões em Marcos 
Passagem: Marcos 15:33-37
Título: O Dia em que Deus "Morreu" na Cruz
Pregado na manhã de Domingo, do dia 19 de agosto de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria, 
por Gustavo Barros

Versão em vídeo

Marcos 15:33-37 33 E houve trevas sobre toda a terra, do meio dia às três horas da tarde. 34 Por volta das três horas da tarde, Jesus bradou em alta voz: "Eloí, Eloí, lamá sabactâni?" que significa: "Meu Deus! Meu Deus! Por que me abandonaste?" 35 Quando alguns dos que estavam presentes ouviram isso, disseram: "Ouçam! Ele está chamando Elias". 36 Um deles correu, embebeu uma esponja em vinagre, colocou-a na ponta de uma vara e deu-a a Jesus para beber. E disse: "Deixem-no. Vejamos se Elias vem tirá-lo daí". 37 Mas Jesus, com um alto brado, expirou.

Introdução:
De todos os símbolos que usaram para o cristianismo [pão, peixe, pomba...] o que mais marcou foi a cruz. O símbolo de vergonha e humilhação se tornou para os cristãos a grande representação da religião. Por quê? O que faz a cruz um símbolo tão maravilhoso? A resposta é simples e perplexa ao mesmo tempo. A cruz é maravilhosa, pois foi nela que o Deus encarnado – Jesus Cristo - morreu vicariamente pelo Seu povo.

Para a maioria das pessoas tal ideia é loucura e escândalo. O grafite de Alexamenos que tinha um homem crucificado com a cabeça de um asno tinha a seguinte inscrição debaixo do grafite: ‘Alexamanos, adora seu Deus!’. A implicação de tal desenho e afirmação é que um deus que se agradou em se encarnar e morrer numa cruz romana só poderia ser um asno/louco, consequentemente todos os que adoram esse deus são burros!

Na mitologia pagã, os deuses estavam sempre irados, por isso era necessário sacrifícios constantes para apaziguar a ira descontrolada deles. Era inconcebível a ideia de que um deus seria tão rico em amor e misericórdia que ele próprio providenciaria o sacrifício perfeito para apaziguar uma ira santa e perfeita.

A morte de Jesus – o Deus encarnado – é o que há de mais simples e mais profundo para a mente regenerada compreender. É simples, pois nela vemos o amor de Deus manifestado como em nenhum outro lugar – Jesus morreu pelos ímpios (Rm 5:8). E ao mesmo tempo é tão perplexo e insondável é a ideia de que Jesus – totalmente humano e totalmente divino – morreu por nós. Como poderia o Deus que é o Alfa e o Ômega ter morrido?

A pergunta que Charles Wesley fez em seu hino, ‘Como Pode Ser?’ [How can it be?], ‘Como pode ser, Tu, meu Deus, morrer por mim?’, tem provocado muitas pessoas.

O teólogo R.C. Sproul rejeita com toda a força a ideia de que Deus morreu na cruz, em um artigo ele diz, ‘Nós deveríamos nos encolher de horror com a ideia de que Deus de fato morre na cruz. A expiação foi feita pela natureza humana de Cristo.(http://amecristo.com/2012/03/24/deus-morreu-na-cruz-r-c-sproul/). D.A. Carson, por outro lado, em um dos seus sermões fala de Deus morrendo na morte de Jesus (http://thegospelcoalition.org/blogs/tgc/2010/07/29/audio-and-video-for-d-a-carsons-the-god-who-is-there/).

O problema é que não é tão fácil assim de explicar a morte de Jesus como Sproul tenta. Jesus ao condenar o pecado em Sua carne (Rm 8:3) condenou-o por toda a eternidade e isso implica em algo muito além da humanidade. Para que a condenação fosse eterna era necessário que fosse aplicada em um ser eterno!

Sabemos que a morte não é o cessar do existir. A morte não implica em não-existência. Por isso sabemos que por um lado Deus nunca deixou de existir. Mas por outro lado, Jesus de Nazaré – que era totalmente divino - morreu (Ap 1:17-18).

Creio que são nessas horas que precisamos simplesmente reconhecer: 1 – nossas limitações; 2 – a profundidade da sabedoria de Deus; 3 – o incompreensível amor de Deus (Fp 3:19 e conhecer o amor de Cristo que excede todo conhecimento); 4 – Que o Evangelho é um mistério que agora conhecemos em parte (Ef 5:32; I Co 13:12).

A ideia de um Deus imortal se encarnar e se fazer mortal, para que por meio da Sua morte pessoas mortais, como nós, pudéssemos ter a imortalidade é realmente profunda de mais para nós! É profunda, pois o amor e a sabedoria deste Deus são profundos!

Se Plinio (historiador romano) viu que era impossível para Deus conceder imortalidade para os mortais (Naturalis historia 2.27), para ele era igualmente impossível que o deus imortal se tornasse mortal e morresse. Imortalidade pertencia aos deuses e mortalidade aos homens. Mas que tipo de deus era proclamado entre os cristãos? Um deus que na verdade morreu? Pior, um deus que morreu numa cruz! Não é de se estranhar que o grafite do segundo século, encontrado em uma parede, tivesse um homem crucificado com a cabeça de um burro!... De que proveito é um deus que permite ser morto, principalmente a morte na cruz? Que tipo de deus faria isso? Que tipo de deus é esse?... Na pessoa do Filho, Deus se fez carne e sangue, e ajuntou todos os nossos gritos de abandono. E mais! Ele não só compartilhou das nossas experiências comuns de abandono nesse mundo que está sob a sombra da morte. Lá, na cruz, na pessoa do Filho, o próprio Deus suportou a ira de Deus – no nosso lugar! Deus fez o impossível (Mc 10:26-27). Deus pagou o resgate para nos libertar do julgamento da morte (10:45), e ao fazer isso Ele concedeu imortalidade à nós, mortais. Numa cruz repulsiva... Deus se aproximou.(Peter Bolt, The Cross from a Distance, IVP, pgs.144-145)

Independente de conseguirmos compreender todas as implicações teológicas da morte de Jesus a verdade é que foi naquela cruz que Deus se aproximou de nós e se reconciliou com o homem pecador!

Contextualização:
Nós chegamos ao ápice da história da redenção, a hora que Deus morreu na cruz pelo Seu povo. Se a crucificação de Jesus é a coroa do estudo de toda teologia, então podemos dizer que os versículos 33-39 do capítulo 15 de Marcos são os diamantes (as joias) dessa coroa. E com certeza o versículo 37 é o Monte Everest de toda a Bíblia, ele é o Diamante Rosa da coroa!

Marcos 10:45 diz qual foi o motivo do nascimento e da vinda de Jesus! As várias profecias na Bíblia e em Marcos sobre a morte de Jesus se cumprem aqui.

Estamos na cena final da morte de Jesus. E durante esse acontecimento Marcos narra cinco eventos extraordinários e dignos de toda a nossa atenção: 1) a Escuridão; 2) o Grito de Jesus; 3) o Último Brado de Jesus; 4) o Rasgar da Cortina; 5) a Conversão do Centurião.

Cada um desses eventos é um tesouro de riqueza que precisa ser examinado com calma e cuidado. Hoje estudaremos os brados de Jesus na cruz e a Sua morte!

Divisão do Estudo:
I – AS TREVAS (v.33)
II – O BRADO DE ESPERANÇA (v.34)
III – A PERVERSIDADE NO CALVÁRIO (v.35-36)
IV – O BRADO DE TRIUNFO (v.37)

Clique aqui para continuar a leitura.