segunda-feira, 30 de agosto de 2010

O Arrebatamento da Igreja, Verdade ou Ilusão? - Parte 1/5


Por Gustavo Barros
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O meu propósito com esse estudo é ir um pouco mais fundo na doutrina do Arrebatamento da Igreja e mostrar coisas que muitas vezes não são levadas em consideração. Muitos cristãos acreditam no ensino do Arrebatamento da Igreja Pré-Tribulação como se isso fosse uma verdade pregada por Jesus e pelos autores do Novo Testamento, mas como veremos, essa idéia não surgiu até meados de 1800.
Esse estudo será dividido em:
I) O Arrebatamento e a Doutrina da Dispensação
II) A História da Doutrina da Dispensação
III) Crenças e Certos Problemas com as Dispensações
IV) O Livro de Apocalipse
V) O Arrebatamento da Igreja
VI) Conclusões e Aplicação Prática
I) O Arrebatamento e as Dispensações:
Como veremos aqui, o ensino do Arrebatamento da Igreja está completamente ligado à teoria das Dispensações. Mas o que é a doutrina da Dispensação? Essa teoria ensina que Deus lidou e lida com os homens através de sete Dispensações diferentes (isto é, administrações - Ef. 3:2). “Cada Dispensação é distinta, e cada uma delas representa um teste diferente do homem natural; e já que o homem fracassou em seus testes sucessivos, cada Dispensação termina em um julgamento” (Berkholf - Systematic Theology, Eerdmans- pg. 710). Deste modo, Israel ainda possui um lugar todo especial na economia divina. No entendimento dispensacionalista, a Igreja não tem nada a ver com o Israel. Todas as promessas para os judeus serão cumpridas num tempo futuro, quando a Igreja for retirada de cena (Arrebatamento). Nessa nova Dispensação em que vivemos (Dispensação da Graça), Israel está como que “largado”, já que eles fracassaram no teste quando Jesus veio. Agora é a vez da Igreja. Mais para frente, Deus voltará a lidar com os judeus.
Mas no meu entendimento bíblico, os cristãos compartilham nas alianças feitas com os patriarcas. Vejo o Antigo Testamento como sendo escrito para o povo da aliança de Deus. Entretanto, ele foi escrito para a Igreja hoje. Não aceito a hermenêutica dispensacionalista que ensina que o Antigo Testamento possui verdades eternas que são de uso da Igreja hoje, mas que num sentido mais literal restringe essa parte da Bíblia apenas para os judeus. Os apóstolos não viram o Antigo Testamento como tendo profecias apenas para Israel. Eles consideraram a Igreja toda como a semente de Abraão e herdeiros das promessas de Deus para com a aliança Abraâmica (Rm. 4:16-17; 11:11-21; Gl. 3:29; 6:15; I Pe. 2:4-10). “Os apóstolos sempre citam o Antigo Testamento usando a forma presente e se referem aos santos do Antigo Testamento usando pronome pessoal “nossos pais”. Eles viram o Antigo Testamento sendo pregado diretamente para a Igreja (Rm. 4:3; 10:8; I Co. 9:8-9; 10:1-10; Gl. 3:16; Hb. 12:5-6)” (Bruce Waltke - An Old Testament Theology, Zondervan pg.42).
Uma hermenêutica correta da Bíblia requer o reconhecimento de que Deus lidou com seu povo em tempos diferentes e de formas diferentes, mas isso não significa que há um buraco separando os dois testamentos e apenas quando a Igreja for retirada de cena esse buraco será fechado.
A Bíblia é dividida em Antigo e Novo Testamento e não Antiga e Nova Dispensação. A palavra “testamento”, no grego e no hebraico, tem um sentido de “acordo” ou “aliança”. No entanto, a Bíblia é dividida em Antiga e Nova Aliança (testamento), o que traz um sentido de unidade na Palavra de Deus. E foi assim que os apóstolos viram a Igreja, como uma continuidade do povo de Deus. Diferentemente da teoria das dispensações que não vêem continuidade entre o Antigo e o Novo. Leia Hebreus 8-9 e você verá claramente que há uma continuidade nas duas alianças e como Jesus é o cumprimento total das promessas, símbolos e sombras do Antigo Testamento.
Se não houver continuidade entre os dois testamentos, a Bíblia fica como um livro vago, sem conexão. Quando vemos a Palavra de Deus como sendo baseada em Alianças e não em Dispensações, podemos entender como as promessas feitas para Adão, Abraão e a nação de Israel (incluindo Davi) se cumprem de uma forma espiritualmente literal em Jesus e no Seu corpo, a Igreja.