Série de Sermões em Marcos
Passagem: Marco14:66-72
Título: O Cair e o Levantar de um Grande Herói
Pregado na manhã de Domingo, do dia 10 de junho de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,
por Gustavo Barros |
Versão em vídeo
Marcos
14:66-72
66 Estando Pedro em baixo, no pátio, uma das criadas do sumo
sacerdote passou por ali. 67 Vendo Pedro a aquecer-se, olhou bem para
ele e disse: "Você também estava com Jesus, o Nazareno".
68 Contudo ele o negou, dizendo: "Não o conheço, nem sei do
que você está falando". E saiu para o alpendre. 69 Quando a
criada o viu lá, disse novamente aos que estavam por perto: "Esse
aí é um deles". 70 De novo ele negou. Pouco tempo depois, os
que estavam sentados ali perto disseram a Pedro: "Certamente
você é um deles. Você é galileu!" 71 Ele começou a se
amaldiçoar e a jurar: "Não conheço o homem de quem vocês
estão falando!" 72 E logo o galo cantou pela segunda vez. Então
Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: "Antes que
duas vezes cante o galo, você me negará três vezes". E se pôs
a chorar.
Introdução:
Quão
bom seria se a salvação nos trouxesse uma perfeição e uma
santificação instantânea! Quão bom seria se, no momento da nossa
regeneração, no momento que o Espírito Santo nos salva, nós nos
tornássemos homens e mulheres infalíveis e totalmente perfeitos na
nossa caminhada - não pecaríamos mais, não falaríamos as
besteiras que muitas vezes falamos, não brigaríamos com as esposas,
no trânsito e no futebol, não seríamos mais egoístas. Ah, quão
bom seria! Mas a realidade não é essa. Apesar de, no momento da
nossa salvação, o Senhor imputar em nós a justiça e a santidade
de Cristo de forma jurídica, apesar de sermos considerados
totalmente justos diante do justo Juiz, ainda
assim nós somos mantidos nesse corpo de pecado, caímos e pecamos.
Esse tão amado e tão irritante paradoxo é conhecido na
soteriologia como o ‘já,
mas ainda não’ (como é
muito bem explicado por Schreiner e George Ladd). Isto é, nós já
somos declarados justos, mas ainda não somos, nesse corpo,
totalmente justos. Já somos declarados santos, mas estamos longe de
uma total santificação. Já fomos adotados, mas aguardamos a adoção
final. A nova criação já foi manifestada, mas aguardamos o
finalizar dela (ver Romanos 8).
Seria
bom se a doutrina da Perfeição Cristã fosse verdadeira, que diz
que todo crente tem a possibilidade de se tornar totalmente santo e
impecável ainda nessa vida e nesse corpo. Mas isso não é verdade.
A verdade é que todos nós pecamos e pecaremos. Não existe
super-homem no Reino de Deus, o único Super-Homem foi Jesus, o único
perfeito foi Jesus.
Recebemos
a salvação. Fomos regenerados espiritualmente. Nosso espírito foi
regenerado, mas ele ainda continua encarcerado nesse corpo caído. Há
nos cristãos uma nova criação, mas essa nova criação ainda está
amarrada a esse corpo podre e por isso lutamos todos os dias contra o
pecado. Trata-se de uma nova criação encarcerada, presa na antiga.
Por isso até os maiores heróis da fé caíram de forma terrível
[Noé ficou bêbado, Abraão mentiu, Isaque mentiu, Jacó mentiu,
Moisés desobedeceu, Davi adulterou e assassinou, Isaias sabia da
impureza dos seus lábios...]. Assim como os grandes heróis da fé
caíram, nós também caímos! Alguns caem de forma mais severa e
mais séria, outros caem de forma menos trágica, mas todos caem!
Essa é a noticia a ruim. Essa verdade, que todos nós caímos e
cairemos, é a notícia que todos nós não gostamos de ouvir. É por
isso que a Bíblia nos exorta para andarmos no Espírito. O cristão
só tem dois modos de andar: no Espírito ou na carne. A Bíblia nos
convoca a estarmos alertas e vigiando para que assim possamos andar
no Espírito (Rm 8:4; Gl 5:16). Pois quando andamos segundo a carne,
nós caímos – mentimos, roubamos, falamos palavrões, ficamos
bêbados, fofocamos...
Somos
salvos? Sim! Somos justificados diante do Justo Juiz? Sim! Somos
considerados santos? Sim! Somos impecáveis? Não! Apesar de já
sermos justificados, regenerados e chamados de santos, ainda não
somos totalmente santos e nem somos perfeitos.
Deus
regenerou nosso espírito, o nosso ser interior foi feito novo, mas
ainda estamos presos ao nosso corpo de pecado. Ainda estamos
encarcerados a esse corpo que foi totalmente afetado pelo pecado.
No
Evangelho da Cruz encontramos a maravilhosa notícia de que há
esperança quando caímos. Há esperança quando percebemos que
estamos andando na carne. A notícia maravilhosa para os cristãos é
que, quando caímos, há solução, e essa solução se chama
ARREPENDIMENTO! Arrependimento é uma palavra tão pouco escutada no
meio cristão atual, mas que é alicerce e pilar da vida cristã. Foi
isso o que João Batista, os profetas do AT, Jesus e os apóstolos
pregaram.
O
arrependimento pode, às vezes, ser constrangedor (quando somos
confrontados a nos arrepender) e muitas vezes humilhante. Mas a
verdade é que ele é um maravilhoso instrumento de graça em nossas
vidas. Arrependimento genuíno é presente de Deus para que nós
possamos caminhar a jornada que nos leva ao Senhor. (At
11:18
Ouvindo isso, não apresentaram mais objeções e louvaram a Deus,
dizendo: "Então, Deus concedeu arrependimento para a vida até
mesmo aos gentios; Rm
2:4 Ou
será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e
paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao
arrependimento?)
Arrependimento
(Gk. μετάνοια)
é a marca da vida de um cristão. Constantemente tendo a mente e as
ações mudadas para que sejam de acordo com os padrões de Deus.
Essa
história diante de nós é uma história triste, pois ela narra
exatamente isso – como um homem chamado efetivamente por Deus,
regenerado pelo Espírito e fiel discípulo de Jesus caiu
tragicamente! Essa é a história da queda de um dos maiores homens
da história da igreja, Pedro. Um homem que andou com Jesus, viu o
que pouquíssimos viram, ouviu o que quase nenhum apóstolo ouviu e,
apesar de tudo isso, negou Jesus.
As
palavras de Ryle são bem próprias nesse contexto de Pedro, “Um
naufrágio é uma visão melancólica... É doloroso ver o sofrimento
e as lutas que a tripulação da embarcação precisa enfrentar para
não morrer afogada. No entanto, nem sequer um naufrágio é tão
melancólico quanto ver um verdadeiro crente escorregar e cair em
pecado. Embora ele venha a ser novamente levantado pela misericórdia
divina para finalmente ser salvo do inferno, tal crente perde muito
por causa de sua queda.”
(J.C.Ryle,
Meditações
no Evangelho de Marcos,
Fiel, pg 196) – Aqui,
nessa história, nós vemos o naufrágio de Pedro!
Assim
como o arrependimento é um presente de Deus, essa história é
também um presente de Deus para a Sua igreja! Hoje, o Senhor nos
permite olhar para a ‘rocha’ da igreja primitiva e aprendermos
com seus erros. O que o apóstolo Paulo falou da história de Israel
se aplica perfeitamente a essa história – I
Co 10:11-12
Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como
advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos. 12
Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!
Poucas
histórias revelam tão bem quão radical é a natureza pecaminosa do
homem, quão absurda e terrível pode ser a queda de um santo, quão
majestosa é a misericórdia de Deus para com os Seus eleitos e quão
respeitado um fracassado pode se tornar mediante a graça de Deus!
Essa
é uma história trágica? Sim! Uma história que narra a queda de um
grande homem? Sim! Uma história humilhante para Pedro? Sim! Mas
acima de tudo essa é uma história de misericórdia. Uma história
que mostra quão maravilhosa e quão imerecida é a graça de Deus!
Assim
como Pedro, todos nós negamos o nosso Senhor! Assim como Pedro,
todos nós fugimos dos sofrimentos causados por seguir a Cristo! Mas,
assim como Pedro, todos os eleitos de Deus têm a bendita esperança,
temos a segurança de que Aquele que começou a boa obra irá
terminar e nos ajudará a nos levantar, nos concederá arrependimento
e nos usará apesar de todas as nossas falhas!
Contextualização:
Os
holofotes foram transferidos do Getsêmani para o palácio do sumo
sacerdote, onde Jesus está sendo julgado. Nesse mesmo lugar (o
palácio), as luzes iluminam outro personagem importante: Pedro!
Marcos tem movido os holofotes para dentro e fora do palácio: 14:53
(dentro),54 (fora),55-65 (dentro), 66-72 (fora), 15:1 (dentro). O
objetivo do autor é contrastar Jesus com Pedro e mostrar como cada
um está se comportando diante da pressão.
“O efeito de se contar uma
história dessa maneira é que Jesus e Pedro são contrastados
fortemente. Os dois estarão sob pressão, mas Jesus, tanto com Seu
silêncio como com sua expressão final, ficará firme, enquanto
Pedro cairá. Jesus irá para Sua morte, mas com Seu testemunho
perfeito. Pedro escapará, mas comprometerá a integridade do seu
discipulado. É um estudo sobre testemunhar sob pressão, em como
fazer e como não fazer.”
(R.T. France,
TNIGTC on Mark, Eerdmans, pg 602).
Nesse
mesmo palácio, em Seu julgamento, Jesus declara ser o Cristo,
enquanto Pedro, em seu ‘julgamento’, nega o Cristo!
Para
a audiência original, que provavelmente vinha sofrendo perseguição
em Roma, essa história era uma lição e um apelo para que eles
seguissem o exemplo do Salvador Jesus. E que sirva de lição e
encorajamento para nós hoje!
Que
possamos ver que a queda não se dá em um momento, mas é
consequência de um período de tempo em preparação! Muitas vezes
nós nos preparamos para cair! Que possamos ver quanto remorso o
pecado deve nos trazer! Que possamos ver como a arrogância nos
derruba! Que possamos ver quão misericordioso é o nosso Senhor!
Divisão
do Estudo:
i
– a primera negação (vs.66-68)
II
– a segunda negação (vs.69-70a)
iii
– a terceira negação (vs.70b-71)
iV
– a lamentação (v. 72)
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