sexta-feira, 15 de junho de 2012

Marcos 14:66-72 - O Cair e o Levantar de um Grande Herói

Série de Sermões em Marcos 
Passagem: Marco14:66-72
Título: O Cair e o Levantar de um Grande Herói
Pregado na manhã de Domingo, do dia 10 de junho de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria, 
por Gustavo Barros

Versão em vídeo

Marcos 14:66-72 66 Estando Pedro em baixo, no pátio, uma das criadas do sumo sacerdote passou por ali. 67 Vendo Pedro a aquecer-se, olhou bem para ele e disse: "Você também estava com Jesus, o Nazareno". 68 Contudo ele o negou, dizendo: "Não o conheço, nem sei do que você está falando". E saiu para o alpendre. 69 Quando a criada o viu lá, disse novamente aos que estavam por perto: "Esse aí é um deles". 70 De novo ele negou. Pouco tempo depois, os que estavam sentados ali perto disseram a Pedro: "Certamente você é um deles. Você é galileu!" 71 Ele começou a se amaldiçoar e a jurar: "Não conheço o homem de quem vocês estão falando!" 72 E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: "Antes que duas vezes cante o galo, você me negará três vezes". E se pôs a chorar.

Introdução:

Quão bom seria se a salvação nos trouxesse uma perfeição e uma santificação instantânea! Quão bom seria se, no momento da nossa regeneração, no momento que o Espírito Santo nos salva, nós nos tornássemos homens e mulheres infalíveis e totalmente perfeitos na nossa caminhada - não pecaríamos mais, não falaríamos as besteiras que muitas vezes falamos, não brigaríamos com as esposas, no trânsito e no futebol, não seríamos mais egoístas. Ah, quão bom seria! Mas a realidade não é essa. Apesar de, no momento da nossa salvação, o Senhor imputar em nós a justiça e a santidade de Cristo de forma jurídica, apesar de sermos considerados totalmente justos diante do justo Juiz, ainda assim nós somos mantidos nesse corpo de pecado, caímos e pecamos. Esse tão amado e tão irritante paradoxo é conhecido na soteriologia como o ‘já, mas ainda não’ (como é muito bem explicado por Schreiner e George Ladd). Isto é, nós já somos declarados justos, mas ainda não somos, nesse corpo, totalmente justos. Já somos declarados santos, mas estamos longe de uma total santificação. Já fomos adotados, mas aguardamos a adoção final. A nova criação já foi manifestada, mas aguardamos o finalizar dela (ver Romanos 8).

Seria bom se a doutrina da Perfeição Cristã fosse verdadeira, que diz que todo crente tem a possibilidade de se tornar totalmente santo e impecável ainda nessa vida e nesse corpo. Mas isso não é verdade. A verdade é que todos nós pecamos e pecaremos. Não existe super-homem no Reino de Deus, o único Super-Homem foi Jesus, o único perfeito foi Jesus.

Recebemos a salvação. Fomos regenerados espiritualmente. Nosso espírito foi regenerado, mas ele ainda continua encarcerado nesse corpo caído. Há nos cristãos uma nova criação, mas essa nova criação ainda está amarrada a esse corpo podre e por isso lutamos todos os dias contra o pecado. Trata-se de uma nova criação encarcerada, presa na antiga. Por isso até os maiores heróis da fé caíram de forma terrível [Noé ficou bêbado, Abraão mentiu, Isaque mentiu, Jacó mentiu, Moisés desobedeceu, Davi adulterou e assassinou, Isaias sabia da impureza dos seus lábios...]. Assim como os grandes heróis da fé caíram, nós também caímos! Alguns caem de forma mais severa e mais séria, outros caem de forma menos trágica, mas todos caem! Essa é a noticia a ruim. Essa verdade, que todos nós caímos e cairemos, é a notícia que todos nós não gostamos de ouvir. É por isso que a Bíblia nos exorta para andarmos no Espírito. O cristão só tem dois modos de andar: no Espírito ou na carne. A Bíblia nos convoca a estarmos alertas e vigiando para que assim possamos andar no Espírito (Rm 8:4; Gl 5:16). Pois quando andamos segundo a carne, nós caímos – mentimos, roubamos, falamos palavrões, ficamos bêbados, fofocamos...

Somos salvos? Sim! Somos justificados diante do Justo Juiz? Sim! Somos considerados santos? Sim! Somos impecáveis? Não! Apesar de já sermos justificados, regenerados e chamados de santos, ainda não somos totalmente santos e nem somos perfeitos.
Deus regenerou nosso espírito, o nosso ser interior foi feito novo, mas ainda estamos presos ao nosso corpo de pecado. Ainda estamos encarcerados a esse corpo que foi totalmente afetado pelo pecado.

No Evangelho da Cruz encontramos a maravilhosa notícia de que há esperança quando caímos. Há esperança quando percebemos que estamos andando na carne. A notícia maravilhosa para os cristãos é que, quando caímos, há solução, e essa solução se chama ARREPENDIMENTO! Arrependimento é uma palavra tão pouco escutada no meio cristão atual, mas que é alicerce e pilar da vida cristã. Foi isso o que João Batista, os profetas do AT, Jesus e os apóstolos pregaram.
O arrependimento pode, às vezes, ser constrangedor (quando somos confrontados a nos arrepender) e muitas vezes humilhante. Mas a verdade é que ele é um maravilhoso instrumento de graça em nossas vidas. Arrependimento genuíno é presente de Deus para que nós possamos caminhar a jornada que nos leva ao Senhor. (At 11:18 Ouvindo isso, não apresentaram mais objeções e louvaram a Deus, dizendo: "Então, Deus concedeu arrependimento para a vida até mesmo aos gentios; Rm 2:4 Ou será que você despreza as riquezas da sua bondade, tolerância e paciência, não reconhecendo que a bondade de Deus o leva ao arrependimento?)
Arrependimento (Gk. μετάνοια) é a marca da vida de um cristão. Constantemente tendo a mente e as ações mudadas para que sejam de acordo com os padrões de Deus.

Essa história diante de nós é uma história triste, pois ela narra exatamente isso – como um homem chamado efetivamente por Deus, regenerado pelo Espírito e fiel discípulo de Jesus caiu tragicamente! Essa é a história da queda de um dos maiores homens da história da igreja, Pedro. Um homem que andou com Jesus, viu o que pouquíssimos viram, ouviu o que quase nenhum apóstolo ouviu e, apesar de tudo isso, negou Jesus.

As palavras de Ryle são bem próprias nesse contexto de Pedro, “Um naufrágio é uma visão melancólica... É doloroso ver o sofrimento e as lutas que a tripulação da embarcação precisa enfrentar para não morrer afogada. No entanto, nem sequer um naufrágio é tão melancólico quanto ver um verdadeiro crente escorregar e cair em pecado. Embora ele venha a ser novamente levantado pela misericórdia divina para finalmente ser salvo do inferno, tal crente perde muito por causa de sua queda.(J.C.Ryle, Meditações no Evangelho de Marcos, Fiel, pg 196) – Aqui, nessa história, nós vemos o naufrágio de Pedro!

Assim como o arrependimento é um presente de Deus, essa história é também um presente de Deus para a Sua igreja! Hoje, o Senhor nos permite olhar para a ‘rocha’ da igreja primitiva e aprendermos com seus erros. O que o apóstolo Paulo falou da história de Israel se aplica perfeitamente a essa história – I Co 10:11-12 Essas coisas aconteceram a eles como exemplos e foram escritas como advertência para nós, sobre quem tem chegado o fim dos tempos. 12 Assim, aquele que julga estar firme, cuide-se para que não caia!

Poucas histórias revelam tão bem quão radical é a natureza pecaminosa do homem, quão absurda e terrível pode ser a queda de um santo, quão majestosa é a misericórdia de Deus para com os Seus eleitos e quão respeitado um fracassado pode se tornar mediante a graça de Deus!

Essa é uma história trágica? Sim! Uma história que narra a queda de um grande homem? Sim! Uma história humilhante para Pedro? Sim! Mas acima de tudo essa é uma história de misericórdia. Uma história que mostra quão maravilhosa e quão imerecida é a graça de Deus!

Assim como Pedro, todos nós negamos o nosso Senhor! Assim como Pedro, todos nós fugimos dos sofrimentos causados por seguir a Cristo! Mas, assim como Pedro, todos os eleitos de Deus têm a bendita esperança, temos a segurança de que Aquele que começou a boa obra irá terminar e nos ajudará a nos levantar, nos concederá arrependimento e nos usará apesar de todas as nossas falhas!

Contextualização:
Os holofotes foram transferidos do Getsêmani para o palácio do sumo sacerdote, onde Jesus está sendo julgado. Nesse mesmo lugar (o palácio), as luzes iluminam outro personagem importante: Pedro! Marcos tem movido os holofotes para dentro e fora do palácio: 14:53 (dentro),54 (fora),55-65 (dentro), 66-72 (fora), 15:1 (dentro). O objetivo do autor é contrastar Jesus com Pedro e mostrar como cada um está se comportando diante da pressão.

O efeito de se contar uma história dessa maneira é que Jesus e Pedro são contrastados fortemente. Os dois estarão sob pressão, mas Jesus, tanto com Seu silêncio como com sua expressão final, ficará firme, enquanto Pedro cairá. Jesus irá para Sua morte, mas com Seu testemunho perfeito. Pedro escapará, mas comprometerá a integridade do seu discipulado. É um estudo sobre testemunhar sob pressão, em como fazer e como não fazer.(R.T. France, TNIGTC on Mark, Eerdmans, pg 602).

Nesse mesmo palácio, em Seu julgamento, Jesus declara ser o Cristo, enquanto Pedro, em seu ‘julgamento’, nega o Cristo!

Para a audiência original, que provavelmente vinha sofrendo perseguição em Roma, essa história era uma lição e um apelo para que eles seguissem o exemplo do Salvador Jesus. E que sirva de lição e encorajamento para nós hoje!
Que possamos ver que a queda não se dá em um momento, mas é consequência de um período de tempo em preparação! Muitas vezes nós nos preparamos para cair! Que possamos ver quanto remorso o pecado deve nos trazer! Que possamos ver como a arrogância nos derruba! Que possamos ver quão misericordioso é o nosso Senhor!

Divisão do Estudo:
i – a primera negação (vs.66-68)
II – a segunda negação (vs.69-70a)
iii – a terceira negação (vs.70b-71)
iV – a lamentação (v. 72)

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