sexta-feira, 25 de maio de 2012

Ministérios de Misericórdia: O Chamado da Estrada de Jericó (Lucas 10:25-37)

Título: Ministérios de Misericórdia: O Chamado da Estrada de Jericó
Passagem: Lucas 10:25-37
Pregado na manhã de Domingo, do dia 20 de maio de 2012,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria, 
por Ricardo Figueiredo

Estudo realizado por Ricardo Figueiredo com base na obra Ministries of Mercy: The Call of the Jericho Road (Ministérios de Misericórdia: O Chamado da Estrada de Jericó) de Timothy J. Keller. O pastor Gustavo Barros não pode realizar o sermão planejado devido a problemas de saúde.

Assista ao vídeo da pregação aqui.


Anotações sobre a pregação

- Precisamos estar antenados com a necessidade de misericórdia que as pessoas tem. As vezes precisamos ler o jornal, depois de nossa leitura bíblica.

- O governo federal considera em situação miserável pessoas que sobrevivem com rendimento abaixo de R$ 70 mensais.

- Levantamento feito pelo IBGE em 2010 também mostrou que cerca de 8,5% da população do País, ou 16,2 milhões de pessoas, sobrevivem com renda familiar entre R$ 1 e R$ 70 por mês. 

- São Paulo (41.250.000 hab.) tem 2,6% dos habitantes vivendo em situação de miséria, ou seja, 1.072.500 hab.

- A BBC Brasil, em fevereiro, noticiou uma semana após ação policial: “Na Rua Gusmões, no bairro de Campos Elíseos, no Centro, cerca de 200 pessoas se aglomeram, em diferentes momentos do dia, no meio da rua e nas calçadas, muitas à espera da próxima passagem do "pedreiro", gíria dada ao vendedor de pedras de crack. Comerciantes locais contrataram seguranças para expulsar grupos que se formam ocasionalmente na frente de suas lojas e evitar a criação de novos pontos fixos de compra e venda.”

- Prostituição (campanha de conscientização em estradas no nordeste). Mães solteiras ainda adolescentes em locais mais pobres do país. Mães separadas ou divorciadas em grandes cidades abandonando crianças pequenas em casa para irem trabalhar.

- Deu no Jornal Nacional (TV Globo): A situação dos hospitais visitados pela equipe do JN no Ar (em Porto Velho, RO) é grave e foram registradas cenas dramáticas. As pessoas estão realmente sofrendo, sem que tenha acontecido nenhum problema grave que justifique um amontoado de pacientes nos dois principais hospitais do estado à espera de atendimento.

- Observatório de Segurança Pública da UNESP - OSP - é um portal da Internet que procura facilitar acesso às informações sobre Segurança Pública no Estado de São Paulo, nele lê-se:           “Os problemas relacionados com o aumento das taxas de criminalidade, o aumento da sensação de insegurança, sobretudo nos grandes centros urbanos, a degradação do espaço público, as dificuldades relacionadas à reforma das instituições da administração da justiça criminal, a violência policial, a ineficiência preventiva de nossas instituições, a superpopulação nos presídios, rebeliões, fugas, degradação das condições de internação de jovens em conflito com a lei, corrupção, aumento dos custos operacionais do sistema, problema relacionados à eficiência da investigação criminal e das perícias policiais e morosidade judicial, entre tantos outros, representam desafios para o sucesso do processo de consolidação política da democracia no Brasil.”

- Enfim, também nós podemos nos desfrontar com gente caída nas mãos de assaltantes na estrada de Jerusalém para Jericó?

- Existem locais semelhantes em nossa cidade? SIM, ELA ESTÁ CADA VEZ MAIS VIOLENTA.

- Os cristãos tem alguma responsabilidade nisso? SIM.

            F.Schaeffer: “Se existe injustiça social (algo mais a Esquerda), digamos que existe. Se existe necessidade de ordem (algo mais a Direita), digamos que existe. Mas não nos alinhemos a eles como fossemos de um dois campos. Não somos aliados de nenhum dos dois. A igreja é totalmente diferente de quaisquer dos dois.”

- O problema das pessoas não é só fisico, mas é também moral e espiritual. Só a igreja (principalmente como pessoas individualmente e famílias-igreja) pode atender a necessidade das pessoas de uma forma integral. Apenas o evangelho entende que é o pecado que tem arruinado o mundo, tanto individual como socialmente-coletivamente.


- Vamos as Escrituras! Nova Leitura de LUCAS 10:25-37 passo a passo:

v.25 – O perito da lei veio testar Jesus. Esperava que Jesus dissesse algo negativo sobre a lei ou sobre o papel dela a salvação.

v.26 – Jesus responde (soberanamente) para demonstrar o que estava no coração dele.

v.27 – Ele faz um resumo da lei conforme muitos escribas e mestres da lei defendiam. Que a ela se amparava em dois princípios (Deut.6:5 e Lev. 19:18). Princípio santos.

v.28 – Jesus concordou e não fez um apelo para ele crer nEle para a salvação. Mas disse: Faça isso, e viverá.

Aparentemente podemos cumprir algumas coisas da lei, mas não os seus princípios mais profundos! 

Jesus queria convencer o perito na lei dos seus pecados contra a lei.

Da mesma forma Jesus agiu com o jovem rico (Mar.10:17-22)

Com ambos Jesus queria mostrar que não cumpririam a lei por seus esforços (cada um de nós tem seu ponto fraco. E aqui temos: riqueza (jovem rico) e falta de compaixão (perito da lei).

Graças a Deus por CRISTO, nossa Justiça! Todos precisamos ver essa nossa condição de miserável pecador.

v. 29 – Mas o mestre da lei não agiu assim. “Quem é meu próximo?” QUERIA SE JUSTIFICAR.  Ele queria tornar esse mandamento “alcançável”, mas maleável.

v. 30 – Jesus responde com uma parábola que explica e aprofunda o mandamento.

ATENÇÃO: Não devemos cair no moralismo. Jesus não está dizendo que seremos salvo imitando o Bom Samaritano, ainda que esteja nos convocando para agirmos como ele. Ele está buscando nos humilhar diante do amor que Deus requer de nós, de maneira que nós desejemos receber o amor que Deus oferece.”

v.30 a 37 – A parábola

v. 30 – A estrada para Jericó era uma descida íngrime e perigosa pela montanha, cheia de fendas e cavernas, o que permitia que ladrões se escondessem e escapassem com facilidade. Era chamada de “caminho sangrento”. Andar por esta estrada naquela época era como andar num beco escuro de uma grande cidade brasileira, com a diferença de que uma rua iluminada estaria a muitas milhas dali.

Lá estava um homem caído, vítima de um crime social.

v. 31 e 32 – Ambos, sacerdote e levita, passaram de lado sem se envolver com o problema do homem em necessidade. Não sejamos apressados em criticá-los. Pense em como reagiriamos se vissemos cena análoga em uma rua escura em nossos dias.  Os marginais ainda poderiam estar por perto. Sábio seria procurar um lugar seguro e chamar algum policial e a ambulância para ajudar a vítima. Espero que hajamos assim.

Outra razão religiosa para o sacerdote e levita:

- Se tocassem um morto (... e se o homem estivesse a ponto de morrer) ficavam impuros por 7 dias, e assim excluídos de atividades religiosas. Eles estariam deixando de atender um “chamado maior”. Mas eles também passaram ao largo de um claro ensino em amar e ajudar ao estrangeiro (Lev.19:34).

Irônico é que esses os oficiais de Deus eram encarregados de ajudar aos necessitados. Os sacerdotes eram os responsáveis pela saúde pública. Os levitas eram os responsáveis pelas doações de toda espécie aos pobres. Mas essas coisas atrapalhariam a agenda deles (cheia de cerimônias e de outras obrigações religiosas mais importantes). Claramente eles negligenciaram o princípio de que obedecer é melhor do que sacrificar (I Sam.15:22).

v. 33 a 35 – Finalmente aparece um samaritano, um inimigo jurado do sangrento judeu caído. Ele encarou o mesmo perigo que os “religiososos”. Poderia ter passado por cima do homem judeu. Eram inimigos mesmo! (Ler João 4:9 – a mulher samaritana estranhou a aproximação de Jesus, pois “os judeus não se dão bem com os samaritanos”). Em João 8:48, os judeus furiosos com Jesus o chamaram de Samaritano, não havia adjetivo pior.

Enfrentando tal situação de inimizade, ainda assim, o Samaritano ajudou ao judeu em todas as suas necessidades: AMIZADE, TRATAMENTO MÉDICO EMERGENCIAL, TRANSPORTE, SUBSÍDIO FINANCEIRO, E AINDA UMA VISITA DE ACOMPANHAMENTO!

v. 36 e 37 – Fazer o mesmo. Temos um ministério de misericórdia.

Jesus está nos mandando prover abrigo, recursos financeiros, cuidado médico, e amizade para pessoas que tem falta disso.  VÁ  E FAÇA O MESMO.

“Nosso paradigma (exemplo, padrão) é o Samaritano, que arriscou sua vida, atrapalhou sua agenda, e se sujou com poeira e sangue por meio de um envolvimento pessoal com uma pessoa necessiada de outra raça e classe social. Estamos obedecendo essa ordem como cristãos individualmente? E como igrejas estamos obedecendo corporativamente?

Sim, I Tim. 3:15 , nos diz que o principal papel da igreja é ser coluna e baluarte (fundamento) da verdade. Mas ela tem também outros ministérios.

Essa é uma parábola provocativa. O perito da lei queria pegar Jesus numa armadilha, mas Jesus mostrou a ele que os líderes religiosos deles são aqueles que realmente não cumprem a lei (em seus princípios).

Jesus aponta para a complacência de religiosos acomodados que protegem-se das necessidades de outros. Seu ensino não nos abala menos hoje, e assim surgem várias questões.

1-    Para vivermos como cristãos precisamos ter misericórdia.
“O que fazer para herdar a vida eterna?”  Jesus respondeu com a parábola do bom samaritano.
O jovem rico (Marcos 10:17) perguntou o mesmo. Resposta: “vende e dá aos pobres”.
Parece-nos que Jesus vê o cuidado com o pobre como parte da essência de ser cristão.
Mateus 25:31-46 > Jesus julgará com base no ministério ao faminto, nú, sem-teto, doente e prisioneiro.
Não somos salvos pela fé? Ou os ativistas sociais são salvos?  Lembremo-nos que as obras seguirão a fé.   (Tiago 2:13-17)

2-    O escopo e a dimensão do ministério de misericórdia.
O perito da lei não negou a necessidade de ajudar aos que tem necessidade. Na verdade ninguém no mundo nega. Mas ele ainda pergunta “quem é o  meu próximo?”
Um ocidental peguntaria: “Senhor, até onde devemos ir nessa ajuda?; Não seria ajudar todo mundo, né? O amor não começa em casa?;  Isso não é o meu dom, nem todos tem esse chamado, né?; Tenho uma agenda cheia e muitas atividades na igreja. Isso não é papel do governo?; Eu mal tenho recursos para mim mesmo?; Muito dos pobres são simplesmente irresponsáveis!”
MAS temos condições de saber quem é o pobre necessitado ou não?

3-    O motivo e a dinâmica do ministério de misericórdia.
Os levitas interpretavam a lei de forma que frustava seus princípios básicos. Não basta saber quais são nossos deveres. 
Os líderes religiosos tinham conhecimento das Escrituras, principios éticos e afinidade racial com o homem caído. O Samaritano não tinha nada disso, mas tinha MISERICORDIA. O que foi suficiente!
Precisamos ouvir esse ensino mais detidamente e seriamente. Não são suficientes as pequenas ajudas ou doações que fazemos para locais distantes. 
Apenas uma pequena parcela das pessoas na história viveram em condições relativamente “seguras”. Guerra, injustiça, opressão, fome, disastres naturais, desunião de familias, epidemias, doenças mentais, deficiências físicas, racismo, crimes, escassez de recursos naturais, lutas de classes – RESULTADOS DE NOSSA ALIENAÇÃO DE DEUS.
Vivemos provavelmente no melhor dos mundos, pela bondade de Deus. Não podemos nos isolar em um mundo de ficção.
Se formos as favelas, subúrbios, debaixo de pontes, hospitais públicos nas periferias, teremos uma visão mais acurada desse mundo. Precisamos ver que vivemos na Estrada para Jericó!

A bíblia tem vários ensinos sobre o tema:

II Cor. 8:1-4 – Um dos efeitos da graça salvadora na vida de um cristão é produzir generosidade espontânea.

Heb. 13:15-16 – O compartilhar recursos é um sacrifício de louvor a Deus. Ele se agrada!

Luc. 4:17-19 – O ministério de misericórida é importante. Jesus escolheu Isaías 61, para o seu primeiro sermão.

Nos últimos anos o povo de Deus tem sido ensinado que cada um é um ministro do evangelho, mesmo não sendo pregadores, somos testemunhas a falar do Evangelho. Mesmo não sendo psicólogos ou assistentes sociais, somos conselheiros. Muito se tem disseminado sobre esses conceitos.

Entretanto, para o ministério da misericórdia, as pessoas deixam para os especialistas: os diáconos. E muitas vezes deixando tudo para ser feito pelo governo ou instituições seculares. Muitos cristãos não entendem claramente essa obrigação, embora entendam muito bem de evangelismo, educação, adoração, e ensino.

Não percebemos a clara direção das Escrituras de que todos os cristãos tem seu próprio ministério de misericórdia. Precisamos nos engajar nisso!

BUSCAR SUA VONTADE, E DEIXAR QUE ELE FAÇA-NOS MISERICORDIOSOS E GENEROSOS SEGUNDO O SEU CORAÇÃO.  

... E CONTINUAR BUSCANDO PARA ATUARMOS PLENAMENTE NESSA ÁREA, MAS TAMBÉM TERMOS EQUILÍBRIO NESSA ÁREA COM AS DEMAIS (PREGAÇÃO DO EVANGELHO).

E assim sermos MINISTROS DE MISERICÓRDIA, atendendo ao Chamado da Estrada para Jericó.