segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Ajude-me a entender a doutrina da eleição. – R. C. Sproul

Tentar responder a essa pergunta dentro desse formato curto e sintético, pode quase fazer mais mal do que bem. Eu poderia fazer um comercial aqui dizendo que a Cultura Cristã publicou um livro que escrevi intitulado Eleitos de Deus, que se dedica inteiramente ao estudo dessa muito difícil doutrina bíblica da eleição.

Quando discutimos a questão da eleição, melhor conhecida como predestinação, muitas vezes essa palavra é associada com a teologia calvinista. O apóstolo Paulo nos diz em Efésios que fomos predestinados em Cristo para ser sua feitura, e também segue esse tema bem de perto na carta aos Romanos. Portanto, como cristãos temos de lutar com esse conceito de eleição divina soberana.

Creio, novamente, que devemos entender o ponto básico da eleição — que Deus considera a raça humana em sua queda e vê a todos nós num estado de rebelião contra ele. Se ele fosse exercer sua justiça total e completamente contra o mundo todo, então todos nós certamente pereceríamos. As Escrituras nos dizem que em nosso estado natural e decaído, estamos num estado de escravidão moral. Ainda temos a habilidade de fazer escolhas, mas essas escolhas seguem os desejos de nossos corações, e o que nos falta como criatu¬ras caídas é um desejo inato por Deus. Por isso Jesus diz, por exemplo: "nin¬guém poderá vir a mim se, pelo Pai, não lhe for concedido" (Jo 6.65).

Creio que a eleição significa que Deus soberanamente e graciosamente dá o desejo por Cristo àqueles a quem ele chama do mundo. A dificuldade, e o grande mistério, é que, aparentemente, ele não faz isso para todas as pessoas. Ele reserva o direito, como disse a Moisés e como Paulo reitera no Novo Testamento, de ter misericórdia de quem ele tem misericórdia — assim como ele escolheu Abraão e não Hamurabi, assim como Cristo apareceu a Paulo na estrada de Damasco de uma forma que não apareceu a Pôncio Pilatos. Ele nunca trata ninguém injustamente. Alguns recebem justiça e alguns recebem misericórdia e Deus se reserva o direito de dar eternamente sua clemência executiva, se você assim desejar, àqueles a quem ele escolhe. Existe um grande debate sobre isso, como você sabe, mas creio que a escolha que Deus faz não é baseada na minha retidão ou na sua retidão, mas na graça divina.