sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Reino de Deus e os Deveres dos seus Cidadãos

por R.C. Sproul

Eu tinha o costume de achar que seria fútil falar para membros de igreja sobre o dízimo. Em meu ministério eu cheguei a fazer uma disciplina de estudo para não falar sobre dinheiro Eu adotei essa posição por várias razões incluindo o desejo de não soar como um comerciante tentando pegar dinheiro em toda oportunidade que surge. Eu estava convencido que era um desperdício de tempo falar sobre dízimo visto que eu achava que todos os cristãos dizimavam e não era preciso lembrá-los dessa tarefa. Assim falar para cristãos verdadeiros dizimarem era como levar o sol para o nordeste brasileiro. Fazer isso seria desperdiçar o tempo do cristão e serviria apenas para alienar os incrédulos. Então quando a oportunidade surgiu para eu falar eu a ignorei.

Foi um programa de administração/mordomia denominacional que iniciou a crise que me acordou daquele sono dogmático. O programa era baseado no tema “De um passo em direção ao dízimo.” A idéia era simples: se uma pessoa estava no momento dando 1% do seu salário ela era encorajada a aumentar para 2%. Se o nível presente era 2% as pessoas eram encorajadas a darem 3% e assim por diante. Eu disse para meus amigos de ministério, “Eu não posso implementar esse programa na minha igreja local.” Alguém disse, “Por que não? Parece ser uma abordagem prática para fazer com que as pessoas se movam na direção certa de uma forma não tão severa e dolorosa”.

Eu argumentei contra essa idéia, pois eu via que esse programa tinha dois erros muito sérios: 1) Fazia do dízimo um ideal que apenas cristãos super-comprometidos conseguiam realizar; 2) Esse programa dava a benção da igreja para que as pessoas roubassem a Deus. Era como se a igreja dissesse, “No ano passado você roubou 9% do que pertencia a Deus. Esse ano, por favor, roube apenas 8%”.

Então eu comecei a falar sobre esse assunto com a minha igreja, e membro atrás de membro veio a mim e disse, “Eu realmente não entendia a minha obrigação...” Outros diziam, “Eu não tenho dizimado e eu sei que devo, por favor me ajude!”. Foi então que eu li a estatística que apenas 4% dos membros dizimam. Esse número me chocou e falou claramente que nós, ministros, não temos comunicado os requerimentos de Deus para o Seu povo.

Algumas pessoas argumentaram com o antigo protesto, “Mas dízimo é uma coisa do Antigo Testamento.” Para ser claro, o mandamento do dízimo foi sim instituído no Antigo Testamento. Mas usar esse fato como uma desculpa para negar o peso disto para a era do Novo Testamento é negar tudo o que o Novo Testamento ensina sobre o nosso envolvimento na Nova Aliança.

Quando as duas alianças são comparadas a ênfase é clara que os benefícios da aliança usufruídas pelos cristãos excedem em muito os benefícios dados aos santos do Antigo Testamento. Com os maiores benefícios vêm maiores, e não menores, responsabilidades!O dízimo deve ser um ato de resposta para com a bondade de Deus. Se a antiga estrutura requeria o dízimo, então é um insulto para com a graça assumir que um nível de gratidão agora seja um ideal conseguido apenas por uma elite espiritual. O princípio do Novo Testamento poderia ser traduzido não como “Um passo em direção ao dízimo”, mas sim “Um passo do dízimo!” Isto é, o dízimo é o ponto de partida, uma base inicial para a administração na era do Novo Testamento. Ele representa a menor resposta, o mínimo de gratidão de uma alma agradecida, uma resposta que deve ser dada alegremente.

Nosso Senhor nos ordenou a orar por trabalhadores. Em um sentido real a oração tem sido respondida. Trabalhadores têm desejado trabalhar na seára – algumas igrejas têm ministros e pessoas com vontade de serem missionárias que possuem o desejo, educação, preparo e visão para cumprir a Grande Comissão. O que está faltando são amigos para financiar esses ministérios. A igreja deve apelar para as consciências das pessoas para trazerem os dízimos de forma voluntária. A igreja não tem os soldados que carregam espadas para punir aqueles que não pagam o que devem – como o Estado.

Essa irresponsabilidade por parte dos cristãos em darem para a igreja é um problema moral com conseqüências gravíssimas para a igreja de Cristo. Nossa obrigação é dar enquanto o Senhor nos prospéra – um dever para com Deus que deve ser visto como algo muito maior do que qualquer dever para com o governo.

O Reino de Deus deve ser financiado pelo povo do Rei!

This article originally appeared in Table Talk a publication of Ligonier Ministries.

Traduzido por Gustavo Barros