Referencia: Mateus 5.21-23
Título: ESTUDO DO SERMÃO DO MONTE – Parte I
Pregado na manhã de domingo, do dia 09 de Junho de 2013,
na Igreja Reformada em Campinas Soli Deo Gloria,
por Ricardo Marcondes
Iniciando o estudo no sermão do monte (ou da montanha), hoje daremos inicio a primeira bem-aventurança:
“Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus.”
Antes de dar início à bem-aventurança propriamente dita, gostaria de fazer algumas considerações:
1. Relação sermão do monte/ lei mosaica.
Algumas pessoas entendem que quando Jesus pregou o sermão do monte, Ele estava explanando e ou interpretando a lei de Moisés. Esse ponto de vista é dado, devido a um entendimento errôneo que as pessoas tinham que, os fariseus e líderes judaicos estavam interpretando erroneamente a lei dada por Deus por intermédio de Moisés.
Mas como já disse acima, essa é uma visão errônea, Cristo não esta explicando a lei mosaica.
Se tratando do sermão do monte, quando fazemos uma leitura cuidadosa de seus versículos, logo de cara percebemos que se trata de algo que transcende a lei de Moisés.
De alguma forma, poderíamos dizer que o sermão do monte, é a lei dos cidadãos do reino dos céus.
Deixa-me apresentar um comparativo de algumas ordenanças no NT e no AT, vejam o que diz:
Êxodo 20.13: Não matarás. --------- Mateus 5.21-23: Ouvistes que foi dito aos antigos: Não matarás; e, Quem matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que todo aquele que se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e quem disser a seu irmão: Raca, será réu diante do sinédrio; e quem lhe disser: Tolo, será réu do fogo do inferno.
Êxodo 20.14: Não adulterarás. ----------- Mateus 5.27: Ouvistes que foi dito: Não adulterarás. Eu, porém, vos digo que todo aquele que olhar para uma mulher para a cobiçar, já em seu coração cometeu adultério com ela.
Sendo assim podemos observar, a transcendência da lei de Cristo em relação a lei mosaica.
2. O sermão do monte, não se trata de uma lista de apoio moral, no qual tem por objetivo melhor ar a sociedade onde vivemos ou fazer com que crentes conquiste sua salvação através de obras.
Não! A bíblia nunca se preocupou em transformar a sociedade, cf.(Jo 18.36) :
“O meu reino não é deste mundo; se o meu reino fosse deste mundo, pelejariam os meus servos, para que eu não fosse entregue aos judeus; entretanto o meu reino não é daqui.” Mas a bíblia se preocupa em transformar pessoas.
Como dito acima também não é uma lista de deveres, o requisito para que uma pessoa possa cumprir o que nos é dito no sermão do monte, é que essa pessoa seja um crente genuíno. Ilustrando o quadro, o que o sermão do monte nos diz é:
“Eis o monte que você precisa escalar, o elevado nível até onde você deve subir; e a primeira coisa que você precisa entender, ao contemplar esse monte que lhe compete subir, é que você não pode fazer tal coisa sozinho, é que você, por si mesmo é incapaz da façanha, e qualquer tentativa nessa direção tão somente serve de prova incontestável de que você ainda não compreendeu o espírito do sermão.”
O ponto que quero chegar é: aqui não nos é recomendado: “vivei deste modo e vos tornareis cristãos, pelo contrário, o que nos é ensinado é: visto que é cristão, vivei deste modo”.
3. Para um melhor entendimento e meditação, podemos dividir o sermão em 5 partes:
· vv.3-10: nos mostra o caráter do crente
· vv.11-12: reação do mundo em relação ao crente
· vv. 13-16: a função do crente no mundo
· vv. 17-48: o crente e a lei de Deus
· Cap. 6 e 7: a vida do crente diante de Deus
Dadas às considerações, vamos ao ponto, isto é a primeira bem aventurança.
Sendo assim o que significa ser alguém humilde de espirito? Primeiramente, permita-me apresentar algumas ideias negativas. Ser humilde de espirito não que dizer que deveríamos ser tímidos e fracalhões, e nem significa que deveríamos ser retraídos, fracos ou acovardados.
Conforme haverei de mostrar-lhes não estamos aqui considerando um homem face a face com outro, mas estamos considerando homens frente a frente com Deus. E se alguém, na presença de Deus, sentir alguma outra coisa qualquer, além da mais total contrição de espirito, isso apenas significara, em ultima analise que tal pessoa nunca esteve na presença do Senhor. Esse é o significado da primeira bem aventurança.
Outro ponto importante que podemos ressaltar é também a falsa humildade, que provem de pessoas que se exaltam em sua humildade e isso é totalmente anti bíblico, o homem que se gloria em sua humildade de espirito, mediante tal atitude prova que não é humilde.
“Uma fé orgulhosa é tão parecida com o demônio humilde.”
Vejam o que muitas igrejas fazem hoje em dia: “você consegue – você pode – Deus te capacita e etc...” Mas o evangelho verdadeiro diz: “ Negue-se, humilhe-se diante do Senhor.”
Percebam que quando estamos cheios de nós mesmos acabamos nos esquecendo de Deus, cf. (Os. 13.6) “Depois eles se fartaram em proporção do seu pasto; estando fartos, ensoberbeceu-se o seu coração, por isso se esqueceram de mim.”
Ser humilde de espirito também, não é suprimirmos nossa personalidade, isso não é necessário, podemos aqui citar um exemplo muito conhecido, este é o apostolo Pedro.
Pedro por natureza era um homem agressivo, que se empunha aos seus semelhantes e era dotado de forte confiança própria – um típico individuo do mundo de nossa época, extravasando confiança própria e crendo em suas próprias forças.
Contudo, contemplemos Pedro quando ele realmente viu o Senhor. Foi então que lhe rogou: “Senhor, retira-te de mim, porque sou pecador.” (Lc 5.8). E consideremos ainda quando, muito tempo depois, tributou elogios ao apostolo Paulo (2 Pe 3.15). Contudo, é interessante observar que ele jamais deixou de ser um homem de grande ousadia; nunca se mostrou um fracalhote, um tímido, quanto a isso ele jamais mudou sua personalidade essencial não se alterou. Mas ao mesmo tempo ele se tornou um homem humilde de espirito.
Para concluirmos, consideremos agora os aspectos positivos dessa bem aventurança, mas a melhor maneira de fazermos isso é através da palavra de Deus. (Is 57.15)
“Porque assim diz o Alto e o Excelso, que habita na eternidade e cujo nome é santo: Num alto e santo lugar habito, e também com o contrito e humilde de espírito, para vivificar o espírito dos humildes, e para vivificar o coração dos contritos.”
Aqui é destacada a qualidade certa de espirito, gostaria de destacar alguns personagens do antigo testamento, o primeiro é Gideão (Jz 6.11-15)
“Então o anjo do Senhor veio, e sentou-se debaixo do carvalho que estava em Ofra e que pertencia a Joás, abiezrita, cujo filho Gideão estava malhando o trigo no lagar para o esconder dos midianitas.
Apareceu-lhe então o anjo do Senhor e lhe disse: O Senhor é contigo, ó homem valoroso.
Gideão lhe respondeu: Ai, senhor meu, se o Senhor é conosco, por que tudo nos sobreveio? e onde estão todas as suas maravilhas que nossos pais nos contaram, dizendo: Não nos fez o Senhor subir do Egito? Agora, porém, o Senhor nos desamparou, e nos entregou na mão de Midiã.
Virou-se o Senhor para ele e lhe disse: Vai nesta tua força, e livra a Israel da mão de Midiã; porventura não te envio eu?
Replicou-lhe Gideão: Ai, senhor meu, com que livrarei a Israel? eis que a minha família é a mais pobre em Manassés, e eu o menor na casa de meu pai.”
Gideão era um homem que verdadeiramente se humilhou diante do Senhor.
Foi essa, igualmente a atitude de Moises, o qual se sentia inteiramente indigno na tarefa que lhe foi dada porquanto tinha a consciência de sua incapacidade. Também se vê idêntica atitude em Davi quando disse: “Senhor, quem sou eu, para que venhas a mim?” Para Davi a visita divina era simplesmente inacreditável e o deixava atônito. A mesma atitude podemos ver no profeta Isaias que tendo recebido a sua grandiosa visão exclamou: “ Sou homem de lábios impuros (Is 6.5)” é isso que significa ser humilde de espirito, e essa atitude pode ser vista em todos os homens de Deus no antigo testamento.
Consideremos agora o apostolo Paulo e o nosso Senhor Jesus Cristo.
Paulo era um homem igualmente dotado de tremendas potencialidades, e como homem natural tinha plena consciência delas. Entretanto quando lemos a suas epistolas, percebemos que sua grande luta, até o fim de seus dias foi a luta contra o orgulho pessoal. Sabemos que qualquer pessoa dotada de grandes qualidades geralmente tem consciência das mesmas e essas pessoas sabem que podem realizar grandes feitos. Paulo nos mostra isso em sua carta aos Filipenses no cap. 3, retratando sua anterior confiança na carne.
Todavia, depois que viu o Senhor ressurreto, na estrada de damasco, tudo se transformou em pura perda, Paulo um homem de tremendas capacidades apareceu em Corinto conforme nos é informado em “fraqueza, temor e grande tremor”. Se existiu um homem que poderia se gabar de suas capacidades esse homem era Paulo, mas como nos é mostrado em todas as suas epistolas ele era um homem humilde de espirito.
Mas, naturalmente, podemos perceber essa atitude nAquele que é acima de todos, a vida do nosso Senhor Jesus Cristo. Ele se tornou homem , tomou sobre si mesmo, “Semelhança de carne pecaminosa” (Rm 8.3). E embora continuasse sendo igual a Deus, não se aferrou as vantagens de Sua deidade. Jesus resolveu que enquanto estivesse nesse mundo, viveria como mero homem, ainda que jamais estivesse deixado de ser Deus. E esse foi o resultado quando Ele declarou: “ Nada faço por mim mesmo” (Jo 8.28). E também esclareceu: “As palavras que eu vos digo não as digo por mim mesmo; mas o Pai, que permanece em mim faz as suas obras.” (Jo14.10). “Nada posso fazer por mim mesmo, porquanto dependo inteiramente do Pai”. Podemos também observar a vida de oração do Senhor Jesus, é quando O observamos nessa pratica, e nos conscientizamos das muitas e muitas horas que Ele passava em oração, que vemos a Sua humildade de espirito e o quanto Ele dependia do Deus Pai.
Repito, ser humilde de espirito é sentir que nada somos, que nada temos e também que olhamos para Deus em total submissão a Ele, dependendo inteiramente de Sua misericórdia.
Isso posto, como é que alguém se torna humilde de espirito? A resposta a essa pergunta é que não olhemos para nós mesmos e nem comecemos a tentar fazer as coisas por nossas próprias forças.
Olhe para Cristo e quanto mais você fixar os olhos nEle mais nulo se sentira em si mesmo e mais humilde de espirito você se tornara. Olhe para Ele e continue olhando para Ele, olhe para a experiência dos santos, considere os homens que mais plenamente foram cheios do Espirito Santo e usados na mão de Deus. Porem acima de tudo olhe novamente para Cristo e então você nada terá de fazer por si mesmo, pois tudo já esta feito.
Mas concluindo você não pode voltar os seus olhos na direção de Cristo sem sentir sua absoluta pobreza e nulidade.
Somente um homem humilde de espirito, pode dizer ao Senhor:
“Nada trago em minha mão, só na Tua cruz me agarro.
Vazio, desamparado, nu e vil. Entretanto, Ele é o todo suficiente.
Sim, tudo o quanto me falta em ti encontro,
Oh, Cordeiro de Deus, venho a Ti.”
