segunda-feira, 20 de setembro de 2010

O Arrebatamento da Igreja, Verdade ou Ilusão? - Parte 4/5

Parte 1 Parte 2 Parte 3
Por Gustavo Barros
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IV) Livro de Apocalipse:
Os que acreditam no Arrebatamento da Igreja crêem que o livro de Apocalipse deve ser lido literalmente e não de forma simbólica. É no livro de Apocalipse que eles baseiam a maior parte da sua doutrina.
Veremos aqui, por que devemos estudar o livro de Apocalipse primeiro simbolicamente.
1) Uso de Símbolos em Apocalipse: Apocalipse 1:1 fala assim: “Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos o que em breve há de acontecer. Ele enviou o seu anjo para torná-la conhecida ao seu servo João”. Essa palavra “tornar conhecida”, no grego, semaino, tem o sentido de simbolizar, comunicar por símbolos. Esse termo é usado em Daniel 2:28-30, 45, quando o rei tem um sonho e Deus através de Daniel interpreta esse sonho. A revelação não é abstrata, mas figurativa (uso de imagens). No Evangelho de João temos essa palavra ocorrendo três vezes (12:33; 18:32; 21:19), sempre resumindo uma descrição figurativa de morte (veja também Atos 11:28).
A essência do livro é figurativa. Como vemos em 1:12-20, o livro é cheio de símbolos, dos quais, alguns, o próprio livro irá revelar o significado, enquanto de outros, procuramos no Antigo Testamento e na cultura grego-romana do primeiro século (onde eles viviam). Logicamente, há algumas partes do livro que não são simbólicas, mas como vimos, a essência do livro é figurativa!
Muitos acham que o livro deve ser interpretado simbolicamente apenas quando há uma clarificação do simbolismo (por exemplo, João explica que os candelabros são as igrejas, 1:20), caso contrário ele deve ser tratado literalmente. Mas, repetidamente, o livro usa simbologia e não traz o significado daquele símbolo (por exemplo, o leão, o cordeiro, o livro, a mulher, a espada que sai da boca de Jesus, os sete chifres do cordeiro etc.).
2) O Propósito do Simbolismo em Apocalipse
Os símbolos funcionam como parábolas, tendo o propósito de exortar e encorajar a audiência. As visões de João comunicam valores que vão contra os valores do mundo e providenciam uma estrutura que traz um suporte para os cristãos. João tenta motivar seus leitores para que eles não sejam enganados e comprometam-se com o mundo. Eles devem ver suas situações nesse mundo à luz do novo mundo do qual eles pertencem.
A forma literária de parábolas e simbologias surge quando os avisos normais não são mais ouvidos. Quando o povo está tão preso aos seus próprios caminhos de desobediência que avisos não bastam, parábolas e simbologias são empregadas para acordar os que ainda estão abertos para correção.
No ministério dos profetas e de Jesus, parábolas foram sinais de julgamento e serviram para endurecer ainda mais os corações das pessoas que não faziam parte do povo de Deus, chocando os santos verdadeiros para que eles continuassem andando nos caminhos do Senhor. O uso de simbolismo por João tem a mesma função.
3) Alguns Exemplos de Simbologia no Livro de Apocalipse

A Importância dos Números:
Pelo menos quatro números (3, 4, 7, e 12) e seus múltiplos, têm um significado simbólico muito importante neste livro. Todos estes números recebem seu significado figurativo do Antigo Testamento. Os números, assim como as imagens figurativas (o livro, a mulher, o cordeiro etc.), devem ser compreendidos simbolicamente pela mesma razão.
a-) 7 – O número 7 representa “completo”, “perfeito”. Os sete dias da criação, que é o período completo da obra de Deus criando a Terra; sete castigos em Gn. 4:15, 24 e Sl 79:12 representam o castigo completo; as sete trombetas, os sete selos e as sete taças representam o completo julgamento de Deus no mundo; as sete igrejas nos mostram que as mensagens são para a Igreja universal; os sete espíritos são mencionados quatro vezes que simbolizam a perfeita soberania divina; a palavra “Espírito” aparece 14 vezes (2x7): sete vezes nas cartas e sete “no Espírito” referindo ao completo e perfeito chamado profético de João.
b-) 4 – O número 4 tem um significado também de “completo”, especialmente em relação ao universo e ao mundo. Veja Ap. 4: 6-8; 7:1 - Quatro ventos e quatro cantos. O mundo é referido em quatro partes (8:7-12; 14:7; 16:2-9).
c-) 12 – O número 12 representa também “completo”, trazendo a idéia de unidade em meio à diversidade, assim como Israel era uma nação composta de 12 tribos diferentes. Os 12 apóstolos representam o povo de Deus. Há 12 meses em um ano. Há dois períodos de 12 horas em um dia. Quando esse número é multiplicado por mil tem sentido de algo muito vasto (incontável).

Os Sete Anciãos e os Quatro Seres de Apocalipse 4:
A Bíblia Scofield diz que os vinte quatro anciãos são representantes dos santos da Igreja (não judeus). Mas muito provavelmente e melhor explicado que apenas santos da Dispensação da Igreja, esses vinte e quatro anciãos representam todos os santos do povo de Deus. Sendo doze do Antigo (as doze tribos) e doze do Novo (os doze discípulos), eles representam a comunidade completa do povo redimido de Deus (veja a canção de Ap. 15:1-4, onde cita os dois testamentos).
Em I Crônicas 24:3-19 e 26:17-19, temos a confirmação dos anciãos como santos. O número vinte quatro é baseado na organização de Davi para o culto no templo: 24 ordens de sacerdotes e 24 ordens de porteiros. Em I Crônicas 25:6-31 temos 24 ordens de levitas que profetizam e louvam. Tudo isso era para representar a nação toda de Israel. Vale a pena lembrar que os chefes dos sacerdotes eram chamados de “anciãos” na literatura judaica (ex. m. Yoma 1.5; m. Tamid 1.1; m. Midoth 1.8). Isso tudo explica a função dos anciãos como mediadores no livro de Apocalipse e participantes da liturgia no templo celestial (Ap. 4:10; 5:8, 11-14; 11:16-18; 19:4). No livro de Hebreus, a palavra presbyteros, “anciãos”, é usada para os grandes santos do Antigo Testamento (Hb. 11:2). Veja também Isaías 24:23 e Êxodo 24:9-10. Assim Ap. 4:4 desenvolve o tema dos capítulos anteriores em relação às coroas, roupas brancas e domínio dos santos. Os leitores têm uma visão do céu para ver que os santos do antigo juntamente com os santos do novo que perseveraram, receberam as promessas.
Os quatro seres representam toda a vida animal da criação de Deus. Esta visão é baseada em Ezequiel 1:5-14 onde temos os querubins descritos como seres em forma de homens e animais. O que fazer então? Interpretar literalmente os seres viventes de Apocalipse? Provavelmente essa não seria a melhor idéia, já que eles se diferem dos vistos por Ezequiel e por Isaías. Assim como o “livro”, os “selos”, “leão”, “cordeiro”, “chifres”, e os “sete olhos” são simbólicos, outras partes da visão dos capítulos 4 e 5 devem ser interpretados simbolicamente. Vale a pena lembrar que as tribos de Israel eram divididas em quatro grupos ao redor do tabernáculo, com o santuário no centro deles (veja Levítico). “Os quatro seres viventes são representantes celestiais da vida animal (criação) e os anciãos são representantes celestiais do povo de Deus. Os quatro seres representam a criação em geral, enquanto que os anciãos, os eleitos da criação especial de Deus” (The Book of Revelation, The New International Greek Testament Commentary, Gergory Beale – Eerdmans, pg. 322).

4) A Repetição de Temas e o Problema com a Ordem Cronológica no Livro de Apocalipse
Os que acreditam no Arrebatamento da Igreja acreditam que o livro de Apocalipse deva ser lido de forma cronológica, isto é, a profecia vai se desvendando até o fim narrando os acontecimentos que irão ocorrer no mundo. Eles afirmam que: 1) Ap. 1:19 divide o livro inteiro em três partes de tempo. Passado: “o que você viu” (cap. 1); Presente: “o que é” (2:1-3:22); Futuro: “que acontecerão” (4-22); 2) A ordem das visões representa a ordem de futuros eventos; 3) Há um aumento na intensidade dos julgamentos.
Mas eles falham em não perceber que há uma recapitulação (ou paralelismo) de temas no decorrer do livro. O livro segue um padrão de que todas as cenas de julgamento são seguidas por uma descrição de salvação; compare as passagens 6:12-17 e 7:9-17; 11:18 e 11:18; 14:14-20 e 15:2-4; 16:17-21 e 19:1-10; 20:7-15 e 21:1-8. Todas essas cenas representam julgamentos finais. Veja 11:7-18 - esta é a passagem que melhor prova esta teoria, pois vemos o Reino de Deus e de Jesus juntamente com o julgamento do ímpio acontecendo. “Está feito” em (16:17) enfatiza o processo de julgamento como que completo, assim como em 21:6 a mesma palavra é usada e as duas palavras saem do trono celestial.
Fica também muito difícil de ver uma continuação da história após a descrição de 6:12-17, se formos interpretar literalmente (onde o 6:12 e 14 é quase idêntico a 16:18-20). Como podemos ver, há um modelo de julgamento-salvação no decorrer do livro inteiro e repetição de temas, o que gera a improbabilidade de haver a narração de acontecimentos numa seqüência cronológica.
Algumas observações finais:
1) A repetição de 3 anos e meio de perseguição em 11:2-3; 12:6, 14; e 13:5 sugere que os cap. 11, 12 e 13 não seguem um ao outro cronologicamente mas sim ao mesmo evento.
2) A repetição de “reuni-los para a batalha” em 16:14; 19:19; e 20:8 é uma forte evidência que 15:1-16:21; 17:1-19:10; e 19:11-21:8 referem-se ao mesmo episódio. As três ocorrências relatam o julgamento sobre Babilônia, a besta e o dragão.
3) A imagem da batalha em 19:17-18, 21 e 20:8-9 é tudo da mesma batalha escatológica de Ezequiel 39. Assim, a cena em 20:8-10 complementa a cena de 19:17-21.
4) A descrição da destruição da Babilônia em 14:8; 16:19; 17:16; 18:2, 10, 17-21; e 19:2-3 certamente não são descrições de julgamentos diferentes que irão ocorrer, mas sim a descrição do mesmo julgamento.
Muito mais poderia ser falado e escrito de como os capítulos 1-3 são fundamentais para o restante do livro e como os temas dos primeiros três capítulos são desenvolvidos no decorrer do livro, mostrando que mais que profetizar eventos futuros, João estava se comunicando com aquelas sete igrejas. Mas pela falta de tempo ficaremos por aqui.
Este estudo de Apocalipse foi tirado do livro The Book of Revelation, The New International Greek Testament Commentary, Gregory Beale – Eerdmans.