terça-feira, 14 de setembro de 2010

O Arrebatamento da Igreja, Verdade ou Ilusão? - Parte 3/5

Parte 1 Parte 2
Por Gustavo Barros
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III) Crenças e Problemas da Teoria da Dispensação:
1) Profecias:
O principal foco dos Dispensacionalistas está na interpretação literal da Bíblia, principalmente com relação às profecias. Eles acham que as profecias devem ser interpretadas literalmente em todos os seus detalhes.
Problema: A Bíblia nem sempre deve ser interpretada literalmente, devido à sua grande quantidade de diferentes gêneros literários. Não lemos e interpretamos os Salmos do mesmo jeito que fazemos com as cartas de Paulo. Por exemplo, quando o salmista fala que ele encontra segurança nas asas do Senhor, ele não quer dizer que Deus é uma galinha ou uma águia literalmente.
Em relação à profecia, primeiramente devemos deixar que a Bíblia interprete a si mesma. Quando temos uma profecia do Antigo Testamento que é referida no Novo Testamento como sendo cumprida, temos aí o cumprimento da profecia, mesmo que ela se cumpra de uma forma aparentemente diferente (espiritualmente) do que era esperado pela audiência original.
Como Interpretar Profecia: Profecia requer todo um cuidado especial para ser interpretada. O gênero profético inclui muita poesia e com isso muita figura de linguagem. Quão literalmente devemos interpretar as figuras de linguagem e os símbolos usados? Por exemplo, quando em Isaías 11:6 o profeta fala: “o lobo viverá com o cordeiro, o leopardo se deitará com o bode, o bezerro, o leão e o novilho gordo pastarão juntos; e uma criança os guiará”. O texto claramente está falando sobre paz, mas quão literalmente devemos interpretar essa profecia? Será que Isaías quis dizer que as nações não mais guerrearão umas contra as outras, ou será que ele está falando de animais e uma criancinha guiando esses animais literalmente? De acordo com o contexto de Isaías 11, especialmente os versículos 10, 11 e 12, o profeta está se referindo às nações que não mais irão guerrear devido à paz que o Messias trará.
Vemos que nem sempre a profecia deve ter seus símbolos e figuras de linguagem interpretadas literalmente. Outro exemplo, Amós 9:11-12 fala: “naquele dia levantarei a tenda caída de Davi. Consertarei o que estiver quebrado e restaurarei suas ruínas...”. Em Atos 15:16-17, temos Tiago se referindo a essa profecia. Ele afirma que com a entrada dos gentios no povo de Deus através de Jesus, o tabernáculo de Davi foi restaurado. Muitos Dispensacionalistas esperam que um templo seja restaurado em Jerusalém para que se cumpram profecias como essa de Amós, mas o problema é que o Novo Testamento vê o cumprimento dessas profecias na Igreja.
Profecias do Antigo Testamento no Novo:
Veja como os autores do Novo Testamento usam profecias do Antigo Testamento que foram feitas para Israel agora sendo aplicadas para a Igreja, provando que a Igreja é o Israel verdadeiro, pois estamos em Jesus (o verdadeiro Israel): Êxodo 19:5-6 e Isaías 62:12 = I Pedro 2:9; Jeremias 32:28 e Ezequiel 37:27-28 = II Coríntios 6:16; Levítico 11:44-45 e 20:7 = I Pedro 1:15; Isaías 30:14 e Jeremias 19:11 = Apocalipse 3:27; Ezequiel 16 = Efésios 5:22-23. Há várias outras profecias para Israel que são cumpridas na Igreja. Israel e a Igreja estão em um (não dois) plano de salvação, onde em Jesus somos todos iguais (Gal. 3:26-29) e onde em Jesus e na Igreja as promessas para Israel são cumpridas (II Co. 6:16-7:1).
2) Interpretações Literais:
O maior problema em minha opinião, é que os Dispensacionalistas interpretam o que eles querem como literal e simbólico. Eles afirmam terem um entendimento melhor da Bíblia pois eles interpretam tudo literalmente. Mas em vários lugares da Bíblia, onde não há simbolismo algum e deveria ser interpretado literalmente, eles fazem o oposto. Por exemplo:
a) Eles acreditam que as sete igrejas de Apocalipse 2-3 representam os sete períodos da história da igreja. Primeiro, em nenhum lugar no livro de Apocalipse temos as igrejas como períodos da história. E segundo, quem disse que há apenas sete períodos na história da igreja?
b) Quando João é levado para a presença de Deus no capítulo 4 de Apocalipse, os Dispensacionalistas afirmam que João representa a Igreja. Mas em nenhum lugar da Bíblia João representa a Igreja. O arrebatamento de João representa sua autoridade profética, assim como Ezequiel e Isaías haviam sido arrebatados para o templo celestial. Os candelabros representam a Igreja, não João. Os Dispensacionalistas simbolizam o que eles querem!
c) Eles vêem o livro de Cântico dos Cânticos como sendo uma alegoria de Jesus e a Igreja. O problema é que em nenhum lugar do livro se acha algo referindo-se à igreja, e muito menos a Jesus. Um livro que deveria ser interpretado literalmente como o amor de um homem para com uma mulher, é por eles interpretado simbolicamente.
Muitas passagens de Apocalipse trariam contradições caso fossem interpretadas literalmente. Por exemplo, Jesus teria uma espada saindo da sua boca (1:16), Ele teria cabelo branco (1:14) e sete chifres e sete olhos (5:6). Tudo muito estranho, não?!

3) Dois Planos de Salvação:
Eles acreditam que há dois planos de salvação, um para Israel e outro para a Igreja. Para eles, Deus tem dois povos distintos. Eles acham que o Senhor não pode lidar com Israel e a Igreja ao mesmo tempo, chamando esse período presente de Dispensação da Igreja. Alegam que Deus parou de se revelar aos judeus agora e apenas depois do arrebatamento da igreja é que o Senhor vai voltar a lidar com eles. Esse é o comentário de Scofield em Romanos 11, “Israel foi judicialmente arrancada da boa oliveira, Cristo. Terá de ser novamente enxertada. E o libertador prometido sairá de Sião e a nação será salva”.
Problema: Paulo, em Romanos 11:26-27, está citando Isaías 45:17, e se você estudar o contexto da passagem verá então que a promessa de salvação inclui todos juntos, judeus e gentios, sendo Israel o agrupamento de todos os povos que crêem no Senhor (Is. 45: 20-25). Em Romanos 11: 25-26, Paulo fala que o endurecimento de Israel fez com que entrasse a plenitude dos gentios, “e assim todo o Israel será salvo”. Sendo assim, Israel seria os judeus e os gentios juntos. Mas na Bíblia Scofield eles tentam separar o versículo 26 do 25, como se fosse um novo tema a salvação de Israel.
Eles falam que as promessas para Israel jamais serão cumpridas pela igreja. O que fazer então com Paulo e os demais autores do Novo Testamento que usam o Antigo Testamento no tempo presente e as promessas de Israel sendo para a Igreja? Será que João Darbi e Ciro Scofield estão mais corretos que os autores do N.T.?
· Em II Coríntios 6:16-17, Paulo claramente fala que as promessas feitas a Israel agora pertencem à Igreja. Veja que ele cita Ezequiel 37:26-27, Lv. 26:12, Zc. 8:8; Is. 52:11- ele mistura todas essas profecias para Israel agora sendo aplicadas à Igreja. Vale a pena notar que Scofield não comenta esse trecho da passagem. Por que será?
· O autor de Hebreus, em Hebreus 8:7-12, cita Jeremias 31:31-34. A passagem de Jeremias é a promessa de uma nova aliança com a casa de Israel e Judá. Agora, o livro de Hebreus aplica aquela mesma promessa para nós, a Igreja. No seu comentário, Scofield fala, “a palavra aliança garante a perpetuidade, conversão futura e bênção de um Israel arrependido, com os quais a Nova Aliança ainda será ratificada”. Esse comentário de Scofield não tem base Bíblica, é confuso e contrário ao que o livro de Hebreus ensina.

4) Algumas Passagens Usadas para a Defesa do Arrebatamento Pré-Tribulacionista
Ø Mateus 24 e Lucas 21 – Os que acreditam no Arrebatamento da Igreja, falam que “Mateus e Lucas estão se dirigindo a dois tipos de crentes. Os crentes na versão de Mateus, são judeus que se converterão durante a tribulação. Os crentes em Lucas são os cristãos que receberam Jesus antes da tribulação. O mesmo acontece nas parábolas de Mateus 13, elas também se referem a dois tipos de crentes.” Desde quando a Bíblia divide os crentes em dois grupos? Como vimos, a Palavra de Deus é clara em que não há diferença entre judeus e gentios (Efésios 3:6; Gálatas 3:26-29). Então, tudo o que lermos a respeito de Jesus, precisaremos decidir se é para nós hoje ou para os crentes judeus do futuro? Estranho, não?!
Ø Em Lucas 21:20, Scofield afirma: “Dois cercos de Jerusalém estão sendo considerados no Discurso, aquele que se cumpriu no ano de 70 d.C., e outro que se cumprirá no fim da Dispensação. As referências em Mt. 24:15-28 e Mc. 13:14-26 são ao cerco final, quando a cidade será tomada pelos inimigos mas libertada pela volta do Senhor à terra.” Mais uma vez, Scofield faz alegações sem base exegética, isto é, sem um estudo aprofundado da Palavra. Quando comparado os três Evangelhos, vemos que os três estão relatando o mesmo assunto, a morte, ressurreição e ascensão de Jesus.
Ø Em Mateus 13:30, na parábola do joio e do trigo, Scofield diz, “Os ímpios serão destruídos. A Igreja, arrebatada antes da tribulação, será reunida no reino milenial junto com os crentes vivos que sobreviveram ao período da tribulação (v.43; 24:13; 25:31) e os justos ressuscitados de todas as Dispensações.” Mas esta parábola não fala nada relacionado com o Arrebatamento da Igreja, pelo contrario, os primeiros a serem tirados é o “joio” e não a Igreja. O joio e o trigo ficam juntos até o fim!
Ø Mateus 13: 47-50, fala da parábola da rede. Lá, mais uma vez vemos os justos e os maus ficando juntos até a consumação dos séculos. Nada é falado dos justos sendo arrebatados antes da consumação dos séculos.
5) Jesus, o Verdadeiro Israel e Templo de Deus:
Nesta parte, quero mostrar que Jesus veio para se revelar como o verdadeiro Israel de Deus, isto é, Ele veio para fazer o que Israel não havia conseguido fazer: revelar o amor, o caráter de Deus, para que outros povos cressem e fossem salvos. E com isso, Jesus mostrou que o Templo de Israel, feito por homens, estava sendo trocado pelo templo do seu corpo, que se tornou a Igreja. O meu propósito é mostrar que não há necessidade de um templo ser restaurado no fim dos tempos em Jerusalém, e nem de que Israel volte a ser um lugar todo especial para a concretização do final dos tempos, pois Jesus cumpriu tudo o que era esperado. Para que voltar ao que era simbólico de Jesus?
Várias vezes Jesus agiu de forma real (literal), mas trazendo um sentido simbólico em relação a Israel e ao Templo.
1) Mateus 4, fala dos 40 dias e 40 noites de jejum no deserto, e quando tentado por satanás, Jesus cita três passagens de Deuteronômio. Isto é uma representação clara de que, o que Israel não conseguiu fazer no deserto nos 40 anos, Jesus conseguiu.
2) Jesus convoca 12 discípulos, simbólico do reagrupamento das 12 tribos de Israel. Esses 12 representam o verdadeiro Israel, sob a liderança de Jesus (que é o grego para Josué).
3) As curas realizadas por Jesus foram profetizadas para ocorrer em Israel quando este fosse restaurado (Is. 32:3-4; 35:5-6; 42:7, 16).
4) O Templo, que era o lugar onde sacrifícios eram oferecidos para perdão dos pecados, foi trocado por Jesus. Jesus se torna o lugar onde o perdão é encontrado (Mt. 9:2-6; Lc. 7:49-50).
5) Ele se considera maior que o Templo feito por homens (Mt. 12:6), pois a glória profetizada por Ageu (2:9) estava Nele.
6) Os que não podiam entrar no complexo inteiro do Templo, agora se achegam ao verdadeiro templo, Jesus (Mt. 21:14 – Is. 56:3-8).
7) Em João 7:37-39, Jesus fala: “Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior fluirão rios de água viva.” Mas que Escrituras são essas? Com certeza Jesus está se referindo as profecias do A.T. que falavam de rios fluindo do Templo de Deus (Ez.40-48; Zacarias 13:1; Isaías 58:11).
8) Ezequiel 37:7, fala do exército de Israel recebendo o sopro de Deus e sendo vivificado. O verbo no grego que aprece em Gn. 2:7 e Ez. 37:7 é o mesmo de João 20:22, onde Jesus sopra sobre os discípulos o Espírito Santo. Temos então o Senhor Jesus soprando o Espírito e renovando a criação do Israel de Deus.
Muitas outras comparações poderiam ser feitas, mas não há espaço nem tempo. Ficamos com o que o autor do livro de Hebreus falou, que todas as coisas do Antigo Testamento foram símbolos e figuras do verdadeiro - Jesus (Hb. 8:5; 10:1). Veja também o que Paulo fala em Colossenses 2:17 e I Coríntios 10:1-3, 11. Os que crêem no Arrebatamento da Igreja acreditam que Israel será restaurada, um Templo será construído, os judeus voltarão ao sistema de sacrifícios e Jesus irá reinar sobre eles. Para quê voltar atrás do que é simbólico e imperfeito?