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Por Gustavo Barros
V) O Arrebatamento da Igreja:
Até agora falamos bastante da doutrina da Dispensação, pois como vimos, a idéia do Arrebatamento da Igreja está completamente ligada à doutrina Dispensacionalista. Agora veremos um pouco mais sobre o Arrebatamento e se há realmente base bíblica para isso.
Sobre o Arrebatamento da Igreja afirma-se:
1) “Que será Silencioso”: A passagem bíblica mais usada para o Arrebatamento da Igreja é I Tessalonicenses 4:17. O interessante é que no versículo 16, Paulo fala: “Pois, dada a ordem, com a voz do arcanjo e o ressoar da trombeta de Deus, o próprio Senhor descera dos céus e os mortos em Cristo ressuscitarão primeiramente”. De silencioso não tem nada, pois teremos o arcanjo falando e a trombeta tocando. Toda passagem da bíblica que se refere à segunda vinda afirma que será visível. Em nenhum lugar fala de algo secreto.
2) “Que o Arrebatamento é a Bendita Esperança da Igreja”: De acordo com Paulo em Tito 2:13, a Bendita Esperança da Igreja é a “manifestação da glória do nosso grande Deus e salvador Cristo Jesus”. Paulo não fala de arrebatamento nenhum.
3) “Que a Igreja Será Arrebatada 7 Anos Antes da Verdadeira Segunda Vinda” – Não existe uma passagem na Bíblia que afirme isso. Essa interpretação depende de um conjunto de passagens que não são ligadas umas às outras, não são claras e não são estabelecidas exegeticamente. Além disto, se soubermos realmente quando a “grande tribulação” começa, saberemos contar mais sete e saber com certeza quando Jesus irá voltar. Isso não faz sentido nenhum. Ninguém sabe a hora e nem o dia.
4) “Que a Igreja Não Pode Estar Aqui Quando Houver a ‘Grande Tribulação’” – Essa afirmação é fraca e mais uma vez sem base bíblica. Dispensacionalistas usam Apocalipse 3:10 para afirmar que o Senhor isenta a Igreja da hora da provação. Não vou discutir o grego dessa frase aqui, mas sabemos que a igreja de Filadélfia jamais foi removida da terra. Deus jamais retirou seu povo dos locais onde Ele despejou Sua ira: no grande dilúvio, Noé e sua família ficaram; no Egito, quando as pragas foram derramadas, os judeus estavam lá; quando Israel foi levado cativo pelos assírios e pelos babilônios, os justos sofreram e morreram. Quando a Igreja começou a ser perseguida vários discípulos foram assassinados. Jesus foi crucificado, passando por a maior tribulação já passada na história do mundo. Em Apocalipse 7:14, vemos os santos que estão no céu e que passaram pela tribulação. O povo de Deus sempre passou e sempre vai passar por períodos de angústia e dor. Precisamos entender que quando os autores da Bíblia afirmam que não receberemos o juízo final de Deus, eles estão se referindo ao estado final da pessoa, isto é, se a pessoa vai receber vida eterna ou sofrimento eterno.
5) “João Representa a Igreja em Apocalipse 4:1 e que Não Há Mais a Menção da Igreja Nos Caps. 4-21 de Apocalipse”: Afirma-se que quando João é arrebatado para a presença de Deus no capítulo 4 de Apocalipse, João simboliza a Igreja. O problema é que em nenhum lugar do livro, nem da Bíblia, João jamais simboliza a Igreja. Essa afirmação não possui nenhuma base bíblica. A outra afirmativa que a Igreja não aparece mais nos outros capítulos de Apocalipse, também não é verdadeira. Pois em Apocalipse 1:20, João explica que os candelabros são as igrejas. Portanto em Apocalipse 11, quando temos os candelabros, nada mais correto do que deixar a própria Palavra interpretar que eles são representantes da Igreja fiel. Assim como das sete igrejas dos capítulos 2 e 3, apenas duas são fiéis totalmente (Esmirna e Filadélfia), temos os dois candelabros como representantes da Igreja.
VI) Conclusões e Aplicação Prática:
Espero que tenha trazido um outro foco, que na maioria das vezes não é mostrado, sobre a doutrina do Arrebatamento. Muitos crêem no Arrebatamento sem levantar questões, mas as questões devem ser levantadas e respondidas. Quero resumir os motivos pelo qual não aceito a doutrina Dispensacionalista do Arrebatamento da Igreja Pré-Tribulação:
1) Não há base exegética (interpretação e estudo gramatical/histórico da Bíblia). Eles usam várias passagens sem conexão umas com as outras (várias passagens fora de contexto) para tentar provar a teoria deles. Assim, eles quebram muitas regras de hermenêutica e fazem a mesma coisa que muitas seitas fazem.
2) O surgimento de uma doutrina após 1800 anos deve levantar suspeita em qualquer um. Se o Arrebatamento da Igreja Pré-Tribulação foi realmente pregado pelos apóstolos, por que não existe nenhum texto claro indicando isso?
3) Assim como o apóstolo Paulo, eu não vejo Israel como uma entidade diferente da Igreja. A Bíblia é clara que em Jesus somos todos iguais e em Jesus e na Igreja todas as promessas do Antigo Testamento são “Amém” (ver Gl. 3: 26-29; II Co. 6:16-7:1).
4) Apesar da boa intenção deles de interpretar a Bíblia literalmente e manter a veracidade da Palavra, existe o perigo de que eles mesmos são vitimas. Há partes da Bíblia que requerem interpretações diferentes devido à grande diferença de gêneros literários.
5) O povo de Deus jamais foi retirado do lugar onde Deus despejou sua ira. Vemos isso no Egito quando Deus liberou as pragas e seu povo estava lá. Quando Israel e Judá foram levados cativos, vários dos justos morreram. A história da Igreja mostra que ela sempre passou pelas mais terríveis tribulações. Nós cristãos seremos salvos da condenação final, isto é, do inferno eterno.
Que pastores e líderes das igrejas possam estar ensinando suas ovelhas que sofrimento sempre veio e sempre virá para o povo de Deus. No Senhor somos mais que vencedores, não importam quão terríveis são as circunstâncias que nos rodeiam.
Nós somos o verdadeiro Israel de Deus, a nossa terra não é algo que se encontra na região da Palestina, mas sim algo celestial. As guerras e assuntos do oriente médio não devem ser coisas que tirem nosso foco e energia, devemos sim orar pela paz em Israel, assim como pela paz no Brasil, Colômbia, Zimbábue e qualquer outro país.
Lembremo-nos que promessas do Antigo Testamento são “amém” para nós cristãos (II Coríntios 6-7) e sendo assim que possamos andar nelas.